Bem vindo ao balaio de gato! Entre e fique a vontade.

O insenso já está queimando enquanto a água dança na fonte.

Logo logo te sirvo o café sob a luz de uma chama que cresce a clamar por boas idéias.

Porque a pressa? Chegue mais e fique!

Deixemos o papo rolar solto sob o embalo gostoso do balanço das cortinas.

Do relógio só me interessa o ritmo do tic tac.


Si Cris





O jardim da Dona Aninha!

                      Um conto real sobre um fato feliz que me ocorreu ao mudar-me para SC


Há muitos meses, numa de minhas caminhadas, me surpreendi ao passar por um humilde e simpático casebre de madeira com um belíssimo jardim florido, alegre e visivelmente cuidado com muito esmero.
Interrompi a caminhada para apreciar com mais atenção:
Quanta beleza! Flores lindas que, de tão vibrantes, pareciam querer cantar em coro. Margaridas, rosas, dálias, bocas-de-leão, sandálias de judeu entre outras, totalizando um conjunto alegre e colorido de formosuras! Árvores de porte mediano acomodando suportes para alimentar pássaros em liberdade! Viçosas folhagens, de um verde tão intenso que transbordavam vida e saúde por cada folhinha! Para minha plena alegria e satisfação, pude perceber ainda a presença de 3 ou 4 cães sossegadamente a dormir o sono dos justos!
Diante de tanto encantamento, senti curiosidade em saber: Quem seria o morador daquele pequeno paraíso a beira de estrada?
Tratava-se de alguém muito pobre, materialmente falando, pois o casebre de madeira encontrava-se em péssimo estado de conservação ! Mas, em contrapartida, era habitado evidentemente por uma alma das mais ricas por ser, claramente, tão cheia de amor.
Meus olhos percorreram todo o jardim em busca de uma imagem concreta dessa criatura do bem mas, sem sucesso, continuei minha caminhada!
Por diversas vezes ainda passei por essa casinha e sempre a procurar aquele ser bondoso, conforme idealizado por mim até então! Só me faltava um rosto, pois já sabia de sua gentileza, amabilidade e respeito para com a natureza o que fazia dele alguém digno de meu apreço! Infelizmente, tive todas as minhas tentativas frustradas, porque nunca consegui avistar ninguém além dos habituais moradores: os pássaros, os cães, as flores e árvores.
Pois bem meus amigos, heis que hoje, bem distante da localização do bairro onde costumo caminhar (já no centro da cidade de São José - SC) ao tentar dar a ré no meu carro que estava estacionado, percebi uma senhorinha que, distraída (ou absorta), sequer moveu-se de trás do carro ao ligá-lo. Sendo assim, desci para pedir-lhe licença! A senhorinha sorriu e desculpou-se timidamente!
Gostei dela! Tinha uma luz especial naquele sorrisinho encabulado.
Já de novo dentro do carro, ao dar partida,  pensei: será que posso fazer algo por ela?
Então desci do carro pela segunda vez e prontifiquei-me:
_ Senhora, estou indo em direção à Forquilhas, a senhora mora nesse trajeto? Posso deixá-la mais próximo à sua casa?
Para minha agradável surpresa, ela respondeu que também estava indo para o mesmo bairro que eu e aceitou!
Ela entrou no carro e imediatamente percebi seu cansaço ao respirar fundo acomodando as sacolas sobre seu colo. Mas o sorriso ..... ahhhh ...... terno e meigo, não hesitava em apresentar-se em seus lábios demonstrando dessa forma, seu entusiasmos pela vida! (coisa de gente guerreira que, apesar do cansaço do trabalho de uma vida inteira e do peso da idade pesando-lhe os ombros, ainda não desistiu de sorrir!)
Um tanto acanhada ainda, adiantou-me logo que morava muito à frente do lugar para onde eu me dirigia. Mal sabia ela que, com aquele jeitinho suave e aquele sorrisinho doce, ela já havia me ganhado e, portanto, a levaria onde ela bem desejasse! rsrsrs
Fomos conversando durante todo o percurso sobre os assuntos que mais me atraem: animais, vida, pessoas, atitudes benéficas e tudo isso junto e misturado! hehehe
Rimos por diversas vezes e em poucos minutos já parecíamos íntimas , duas velhas amigas a passear pela cidade!
Ela aparentava a idade de 75 anos, aproximadamente. Tinha os cabelos cinzas naturalmente coloridos pelos anos, pele cravada de rugas ( famoso privilégio dos sortudos de vida longa)! Algumas manchinhas no rosto e mãos - marcas que o sol foi gradativamente tatuando enquanto ela esforçava-se em cuidar da vida! Usava um delicado vestido floral, brevemente encoberto por um casaco de lã lilás e com os botões destacados por um roxo contrastante! Mas o mais fascinante que pude observar na Dona Ana (Dona Aninha, como pediu que a chamasse) foi seu semblante suave destoando positivamente do cansaço evidente em seu corpo.
Alma leve numa carcaça pesada .. foi o que pude notar!
Encantei-me com dona Aninha!
Foi então que, nesta manhã de quinta feira, iluminada pelo sol e pelo brilho da luz Divina, tive o desfecho mais feliz que eu poderia ter:
Já em meu bairro e entre as paisagens que acompanham meus percursos a pé pelas manhãs, ao aproximar-me alguns metros daquele casebre ...( aquele simpático de jardim estonteantemente lindo que citei no início deste relato) dona Aninha me pede para ir devagar poque já estávamos chegando em seu destino! E segundos depois disse-me de sobressalto:
_ É aqui "moça", eu moro aqui!
Disse isso apontando para sua casa tendo sua mão franzina para fora do carro, mostrando o aspecto sacrificado das mãos de quem lida com a terra.
Nesse instante, mal pude acreditar no que via: Como olhos infantis a apreciar guloseimas, deparei-me estarrecida ao ver através da janela, o casebre do "jardim das maravilhas"!
Eu havia dado carona para a moradora daquele casebre florido, até então sem nome e sem rosto , que eu tanto buscava conhecer. E a quem eu já amava e lembrava sempre com carinho!
Não pude evitar as lágrimas que dona Aninha pode entender só minutos depois, quando consegui explicar ainda tomada pela emoção!
O final dessa história???? Não há final, pois tornamos grandes amigas, tamanho carinho que já descobrimos sentir uma pela outra!

Percebam meus amigos o quão mágico, incrível, fascinante e maravilhoso é viver!
Basta abrir os braços para a vida, estender as mãos para um irmão e acordar dispostos para enxergar o que realmente merece nossa atenção e pronto: verdadeiros milagres passam a acontecer!


Si Cris (dez/2012)