Recolhida num canto da sala, sob meia luz e em minha própria companhia,
perco-me entre pensamentos vagos e lembranças picotadas.
Passeando pela minha história a
recolher experiências vividas, proponho-me criar enredo - um curta metragem que me componha !
Eu preciso saber afinal: Na teia da vida, qual linha eu teci ? Do todo,
qual parte me cabe?
Levo as mãos à cabeça que, por sua vez, refugia-se entre os joelhos. As
carícias do cabelo entre as coxas dão a
falsa impressão de aconchego! Mas, não há
aconchego na inquietação! A angústia da busca retrai o meu corpo em dor!
Semelhante a um "tatu
bola", permaneço embolada em meu eu. Com o queixo pousado entre os
seios, prossigo à caça de mim mesma - descabidamente!
Até que, em meio ao torpor da solidão e a busca incessante por
respostas, um choro rasga a madrugada fria
se fazendo estalo de romper loucuras.
Ouvido de mãe jamais se engana
- é o rebento a clamar por mim!
Neste sublime instante, ao abrir dos olhos, deparo-me com a resposta clara e escancarada.
Ainda embalada pelo choro melódico do meu filho, vejo holofotes
apontados para o meu ventre!
Ali,
exatamente ali entre o umbigo e o púbis, finalmente me encontro! Refeita na
luz, me vi mulher!
Mulher que um dia rompeu-se de um cordão e com a mesma força refez-se em
outro, agora ponte entre seiva e
feto. Mulher que, do prazer à
dor, viu brotar a vida, fez parir o amor!
Ergo o olhar confiante e cheio de
esperanças!
A história refaz-se a cada novo
dia!
Do meu passado eu faço um vaso a acolher lembranças alegres! Deixo o
retrô para a ispiração dos saudosos. Quero para mim tudo o que ainda está por
vir e que avidamente hei de buscar!!
Frente à batalha por meus sonhos assumo, por fim, minha colocação: Sou
parte, sou centro! Eu sou o todo!
Sou mãe! sou guerreira! sou
mulher!
Si Cris (2012)
Si Cris (2012)